Este blogue tentou desde o principio fugir um bocado a temas políticos, porque simplesmente não foi com esse objectivo que foi feito. Mas uma coisa tem-me inquietado nestes últimos dias. O conceito de Realismo Salarial. Ouvi-o pela primeira vez da boca do primeiro-ministro ( que ultimamente só tem dito asneiras ), depois foi Vítor Constâncio e lembro-me de ter lido no Expresso também qualquer coisa sobre isso ( não me lembro quem ). Bem, o mais surreal de tudo isto foi o primeiro-ministro ter-se pronunciado sobre isto de uma maneira relativamente despreocupada, dizendo qualquer coisa como "os portugueses têm de ter realismo salarial e lembrarem-se que hoje mais do que reclamar um melhor salário, devem estar contentes por ter um emprego". A declaração é ridícula, põe em causa um direito claro dos trabalhadores que é o de lutarem por melhores condições laborais e é um incentivo às empresas para continuarem a expandir a "geração 500 euros".
Até aqui e apesar de tudo isto já ser suficientemente grave, tudo isto é agravado com o facto de estas declarações serem feitas num encontro-comício da UGT. E ainda mais - foram aplaudidas. Então mas agora os sindicatos, principais defensores dos direitos dos trabalhadores aplaudem declarações que são um atentado ao direito de contestação salarial? Este país necessita urgentemente de rever o papel dos sindicatos na sociedade laboral. Parece-me que neste momento não servem nada nem ninguém.
A nossa comunicação social esqueceu este assunto. A própria TVI, que ladra como um cão raivoso a tudo o que faz este governo, deixou passar estas declarações como se elas simplesmente não tivessem acontecido. E porquê? A resposta não é difícil. Aqui não se podia simplesmente "malhar", era necessário questionar e fazer entender o público sobre o que na realidade estava em causa e isso dava muito trabalho. O jornalismo em Portugal (salvo raras excepções), mais do que nos informar só nos tem estupidificado.
E os outros partidos políticos? E os grandes senhores da nossa sociedade civil? E os grandes empresários que deviam acima de tudo defender os seus quadros de trabalhadores e insurgir-se contra o facto de estarem a receber um incentivo a piorar cada vez mais a vida dos seus trabalhadores? Esses - todos esses - têm com certeza na sua conta bancária bastante "realismo salarial".
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